sábado, 20 de fevereiro de 2010

O GENTIL-HOMEM, O FIDALGO E O MONTADOR DE CAVALOS



Eu adoro palavras... o significado, o som, a origem... Às vezes os menores detalhes podem explicar muito. É como aquela velha diferença entre cavalheiro e cavaleiro. Estive pensando nela. Em outras línguas são palavras totalmente diferentes e essa parecença em português acho meio forçada.

A primeira é sinônimo de gentil-homem e pode ser traduzida por gentilhomm
e, ou gentleman, ou gentiluomo, ou seja, um homem de boas maneiras. Na verdade, na Europa, no auge das monarquias era a palavra usada na Inglaterra para destacar um homem bem nascido, mas sem títulos de nobreza. Um quase nobre, digamos assim...

Já a palavra cavaleiro
surgiu pra designar um homem que tinha um cavalo que podia manter a serviço do estado. No nosso idioma permaneceu bem perto da origem e, ainda hoje, é o homem que monta cavalos. Só que na antiguidade um cavaleiro era considerado um cidadão superior, um soldado. Sabe aquele que matava o dragão pra salvar a princesa? Ele mesmo. Então na Inglaterra se tornou um título concedido pelo rei ou rainha, o fidalgo (filho de algo), que é transmitido de geração em geração e é a porta de entrada para a corte, a única maneira de se chegar à nobreza.

Acho que toda essa bagunça linguística é que confunde os homens desse país (tem que ter uma explicação, né?). A parte do cavalo é fácil... Mas essa história de separar um homem bem nascido, que sabe ser gentil daquele que é um nobre de nascimento e salva princesas de dragões... Aff... Aí complica... A começar que não está nada fácil se encontrar um dragão por aí... E as princesas de hoje em dia... se sustentam, dirigem, saem sozinhas. Não dão sinal de precisar de um salvador. Quanto aos bons modos, quem liga? Aparentemente ninguém. Ninguém precisa ser salva, ninguém liga pra gentileza e dragão é um equívoco histórico. Certo? Não.

Eu, sem perceber, comecei a fazer um teste com meus vizinhos, observando como eles agem ao entrar no prédio junto comigo. Aprendi quais são os que fazem questão de abrir as portas pra mim e mante-las abertas, se desculpam quando estão com as mãos ocupadas e em hipótese nenhuma entram primeiro no elevador. Desnecessário dizer que são meus favoritos. Desde que descobri que faço isso comecei a ver o quanto presto atenção a essas coisas e quanto elas são significativas. Mesmo quando o vizinho é gay, ou mesmo que seja meu pai ou meu irmão. Que sensação boa perceber esses seres tomando cuidado pra não andar na minha frente, ou pra que eu não tropece, me cedendo a vez. Homens e mulheres são criaturas diferentes, sem dúvida, e boa parte desses hábitos foi criada tendo em vista nada além da inferioridade física feminina, mas demonstram zelo, deferência por tudo que somos e significamos e não tem como isso não fazer bem...

Não, na maior parte do tempo não precisamos mais ser salvas... (o que não significa que eu dispense uma figura masculina confiável numa situação de perigo físico...) Não de nada que ameace nossa sobrevivência, nem precisamos mais da tutela de ninguém. O monstro da dependência é uma realidade cada vez mais distante. Mas todas e todos merecem ter quem os salve da frieza, da solidão, da desesperança... E que tenha cavalo ou não, mas que entenda de solidariedade.

Quanto ao dragão, ele hoje usa os mais variados disfarces... Às vezes ele é carência, insegurança, em outras é medo, cobrança, aspereza, intolerância... O certo é que é mais fácil matá-lo se tiver alguém do lado pra te proteger.

Espero que agora tenha ficado mais claro... Porque a verdade é muito simples: todo mundo quer se sentir especial. E mulheres se sentem especiais quando tratadas como... mulheres. Ainda que não sejam princesas em perigo, nem donzelas indefesas. E ainda que os fidalgos e cavalheiros não sejam nada mais que os homens comuns que as cercam desde sempre.



Beijos



Ana Mineira

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