sexta-feira, 7 de maio de 2010

APRENDENDO A CONVIVER COM A DIFERENÇA


Chega o fim de semana... E quem tem filho começa as orações pra Nossa Senhora do Programa de Indio. No último, depois de ter ouvido lamentações de segunda a sexta implorando por McDonald's (o que pra mim significa: comida ruim, Coca-Cola com gelo, mesmo que você implore pra não colocar, repetir 364 vezes "termina o lanche!" e passar horas olhando pro nada esperando crianças se cansarem de brincar) me rendi. Como não sou boba fui preparada: aparelho de música com fone de ouvido e livro. E estava dando certo... Filho e amiguinho se esbaldando... só ouvia a gritaria de longe e percebia vagamente os vultos em minha volta...

Até que chegou o João. Com uns 9 anos, a mesma idade dos meus (na verdade só tenho um, mas estou sempre com vários e quando estão comigo são todos meus) estava com a mãe e a irmã e ficou parado no canto do pátio observando a movimentação, como só as crianças sabem fazer... Aos poucos os três foram se aproximando e resolveram brincar de pega-pega. Quando ficaram exaustos se sentaram e foram jogar cartas de Bakugan (se você não faz a menor idéia do que se trata, fique apenas feliz por isso e esqueça o assunto). João distribuiu o baralho e eles passaram um tempão muito entretidos, até a mãe dele ter que ir embora, no meio de muitos protestos. Nada demais, não é? Apenas crianças brincando... Seria sim, não fosse por um detalhe: João tem Síndrome de Down.


Quando ele chegou fechei meu livro e fui observar como ia interagir. A princípio pensei que fosse procurar as crianças menores, fiquei ainda mais curiosa quando vi que ele queria brincar com os "meus". Sei que meu filho e seu amigo não têm nenhuma intimidade com pessoas com necessidades especiais, não me lembro de te-los visto antes com crianças que não fossem "normais". Também não estão mais naquela idade em que tudo é natural e aceitável. Pelo contrário, estão começando a atentar para os enormes abismos que separam os seres humanos e muitas vezes, nessa fase, o grande barato é discriminar o diferente. Então não nego que minha respiração ficou um pouco suspensa.

Ele tem problemas de fala e dificuldade de entender regras mais complexas das brincadeiras, além, é claro, das características físicas. Mas eles driblaram esses obstáculos. João ficou sendo sempre o pegador e adorou! E os outros dois riam muito enquanto fugiam, mas sempre junto com o João e nunca dele. A comunicação também foi resolvida: eles ficaram perto da mãe do novo amigo e quando precisava ela fazia uma traduçãozinha. E pronto! Superadas as diferenças ficaram sendo só aquilo que sempre foram: crianças.

Óbvio que a babona aqui deu vexame. Ainda que tentando ser discreta não conseguia parar de sorrir e nem conter as lágrimas. Fiquei feliz. Orgulho pela coragem do João, que não se importando em enfrentar uma possível rejeição, fez o que teve vontade de peito aberto e com muita independência. E pelos "meus" meninos que lidaram com aquela situação tão diferente com delicadeza, elegância e generosidade.
É claro que eles perceberam. Dentro do carro me bombardearam de perguntas, que respondi com toda sinceridade. Não deixei de ressaltar a importância e o valor da atitude deles e de explicar que muitas pessoas, até mesmo muitas crianças, não teriam tido um comportamento tão cheio de dignidade e naturalidade.

Adorei o passeio no McDonald's.



Beijos


Ana Mineira

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