sábado, 8 de maio de 2010

MÃE QUE TEM MÃE




Julia era a mãe de John Lennon.
Ela não o criou e acabou morrendo prematuramente,
mas ele tinha por ela verdadeira adoração

Um dos versos de música de que eu mais gosto e de que me lembro sempre vem de uma canção do Ira!, Dias de luta: "Se meu filho nem nasceu, eu ainda sou o filho". É a pura verdade. E acho que entendi toda a dimensão dessa frase, que, na verdade, é muito mais significativa do que parece, depois que virei mãe. Até termos filhos somos filhos, depois...

Há nove anos pra mim o Dia das Mães tem sido um momento de refletir sobre o meu papel de mãe e nada mais. Acho que depois que eles nascem a gente fica meio condicionada, todas vez que ouve a palavra "mãe", o que vem na cabeça é "filho" (Como será que ele está? Está seguro? Está feliz? Está precisando de mim?). Nossas próprias mães acabam relegadas a um papel coadjuvante, que aceitam com o coração aberto.

Minha mãe é uma das criaturas mais sem frescura que já conheci na vida. Pra ela tudo é fácil e possível. E faz com uma entrega, com uma dedicação que o resultado é invariavelmente simples e perfeito. É meio mãe do mundo e acha que é seu dever cuidar de todos os seres que cruzam o seu caminho. Foi ela que me ensinou que ser mulher, ou pobre não é defeito. Pelo contrário. Dentro daquela simplicidade comovente ela carrega todo orgulho do mundo, sem nenhuma soberba. Adora paparicar, adular, sem nunca perder aquela aura de quem está zelando pelos seus pequeninos. Cuida de um bando de nobres ou de mendigos com a mesma dignidade. Sempre se torna uma referência onde passa. Todos têm alguma coisa pra perguntar pra ela. Todos querem sua companhia. É tão mãe que foi mãe da própria mãe.

Uma vez estava comentando com uma conhecida sobre um acontecimento, nem lembro mais o quê ou sobre quem, mas eu dizia que concordar com atitudes de desrespeito era inaceitável e absurdo. Ela ficou calada e pensativa e depois disse: "Você deve ter sido muito amada quando criança". Por um momento não entendi, mas quando olhei pra ela vi o que queria dizer: só tem segurança para rejeitar o desprezo e o desamor quem foi amado. Não é uma coisa que nasce conosco. Se eu enxergava assim é porque tinha tido o privilégio de aprender a ser assim. E foi com minha mãe... Ela sempre me amou muito.

Por isso aqui, agora não vou ser mãe, vou ser filha. Vou me divertir e me emocionar lembrando que, até hoje, minha mãe está atenta a todos os detalhes da minha vida, como se eu tivesse acabado de nascer. Ainda fica adivinhando meus desejos e necessidades. Ainda desenrola as golas das minhas blusas e limpa meu rosto com cuspe. Ainda da palpite em tudo e se acha na obrigação de decidir por mim. Ainda acha que tudo que acontece de mais pesado na minha vida (ainda que aconteça na de todo mundo) é injusto. Ainda me acha a melhor, a mais bonita, mais perfeita e mais interessante. Como é bom saber que pra ela vou ser sempre pequena e frágil, mesmo se for eu quem estiver cuidando. Da um alento, um conforto... Aí então, lembro da minha conhecida e não consigo deixar de pensar: todo mundo merecia ter isso.

Metade do que eu digo não faz sentido
Mas digo apenas pra te alcançar, Julia
Julia, filha do oceano, me chama...
Então eu canto uma canção de amor, Julia.
Olhos de concha do mar, sorriso de vento, ela me chama
Então eu canto uma canção de amor, Julia.
Seu cabelo de céu flutuante está brilhando,
Reluzindo ao sol
Julia, Julia, lua da manhã, me toque
Então eu canto uma canção de amor, Julia.
Quando eu não consigo cantar meu coração
Só posso dizer o que penso
Areia adormecida, nuvem silenciosa, me toque
Então eu canto uma canção de amor, Julia.
Ela me chama
Então eu canto uma canção de amor para Julia.


Beijos

Ana Mineira

Um comentário:

  1. Lindo Ana, muito lindo o que vc escreveu.
    Eu acho que conheço essa "sua conhecida", será quem eu estou pensando? rsrs. beijos estou amando seus blogs.começei a ler e fiquei agarrada, enm vi o tempo passar.Tenho que sair. Volto logo rsrs.

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